Um horizonte sem fim de um mar revolto que se aparenta com o meu ser. Neste estado de não ser capaz de dar o meu melhor ou de ser suficientemente boa em alguma coisa.
Um dia serei livre como o mar, que vai para longe e vem para perto quando assim o quer; que vai destemido, sem ter medo de olhar para trás e para a frente. Um dia serei livre para deixar as garras que me pretendem a este lugar e terei a resposta à pergunta que tanto me questiono: será que irei ter coragem de voltar ao que me prendeu?
O inconstante é a única constante na minha vida. Não sei para onde vou, mas se vou sei que tenho de voltar. Ora posso voltar cedo ora posso voltar tarde. Às vezes, ocorre-me de que não quero voltar para o que sou, quando estou longe e o mar me acompanha o passo. Quero correr para longe, deixando passar tudo o que me prende para trás, num passado distante que deve permanecer esquecido. Quero correr, com as mãos dadas no que tenho de mais certo na vida, por estradas desconhecidas, indo de encontro a destinos, que não sei se estou preparada para viver ou se estão preparados para me receber. Quero desprender-me do que me impede de seguir, livre e feliz; quero desprender-me do que me faz voltar, quando o que mais quero é estar nos braços de quem mais estimo e para sempre lá ficar, resguardada de tudo em meu redor, naquela bolha de amor e de conforto; quero desprender-me do que me desmotiva e me faz ficar soturna.
Há um passado avarento que quero fugir com todas as forças que tenho, mesmo que me enrole nas minhas tristes lembranças do que já fui e já decidi. Fujo dele e não deixo que me consuma de novo e abandone num local que tão bem conheço e que tão poucas saídas tem. Quero deixar para trás o que me pesa e ser livre feito o vento para ir onde me esperam; para ser livre para amar sem medidas e sem horas de voltar a desprender-me dos seus braços calorosos; livre para decidir quando é hora de partir, quando é hora de acordar; ser livre para decidir cada passo que dou, sem que do outro lado haja alguém a mover-me a seu bel-prazer, idêntico a um jogo de tabuleiro onde sou a peça.
Estou em constante dependência do tempo dos outros e arrasto comigo quem de mim quer tempo, esse mesmo que me é despojado a todo o momento. Há tanto que tenciono dar, sem conseguir. As minhas vontades não são movidas sempre por mim e por dias sou apenas uma marioneta nas mãos de quem não sabe se me quer ou não.
Será que quando os fios se soltarem, as garras enfraquecerem, irei querer voltar para o sítio que tanto me privou de viver? Só o tempo poderá dizê-lo com toda a certeza. Para já, só sei onde almejo ir, o que ambiciono e ir para perto de quem sei que me espera.
2 Comentários
Há momentos em que temos mesmo que ir. Temos de soltar as amarras e, simplesmente, depender do nosso tempo. Porque, depois, acabaremos por cair numa espiral de frustrações e cobranças desnecessárias.
A nossa estrada e o nosso destino podem ser bastante inconstantes, mas, mesmo assim, haverá sempre um lugar – e um coração, pelo menos – onde iremos sempre pertencer
Não diria melhor. No final do dia, esse coração a quem pertencemos ou lugar é o único que nos faz continuar a lutar sem cessar.